sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

PMDB condiciona aliança com PT em 2010 a acordo nas eleições deste ano

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Raymundo Costa - VALOR

A eventual aliança entre PT e PMDB em 2010, como quer e tem defendido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, precisa passar no teste das eleições municipais de 2008, segundo avaliação feita na cúpula pemedebista. Para o PMDB, Lula e os petistas estão atrasados em relação a PSDB e DEM e precisam abrir logo negociação em torno de quatro praças que considera decisivas para para o futuro da aliança - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, não por acaso, as capitais dos quatro maiores colégios eleitorais do país.

O PMDB está atento ao desembaraço com que PSDB e DEM já tratam das eleições municipais. O partido acompanha especialmente a situação de Belo Horizonte, onde o governador mineiro Aécio Neves ensaia uma aliança tucano-petista com o prefeito Fernando Pimentel. É o tipo de entendimento que terá repercussão sobre a eleição de 2010, se for concretizado. Os pemedebistas acreditam que têm alternativas para a capital mineira, mas só depois da posse da nova direção do PT, na próxima semana, a conversa entre os dois maiores partidos do país deve ser retomada.

Uma dessas alternativas é o nome do ministro das Comunicações, Hélio Costa, uma vez que o petista mais bem posicionado nas pesquisas para a prefeitura, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), é cotado para disputar o governo do Estado, em 2010, ou até mesmo a Presidência da República, na sucessão de Lula - Patrus é o responsável pelo sucesso do principal programa social do governo, o Bolsa Família. Além do PMDB, o próprio ministro do Desenvolvimento vê com apreensão os movimentos de Fernando Pimentel em direção aos tucanos.

Patrus não tem comentado as articulações tucano-petistas, mas o Valor apurou que o ministro defende, para Belo Horizonte, a mesma aliança que Lula prega nacionalmente: a do PT com o PMDB. Incomoda a Patrus, também, o fato de Pimentel tratar da aliança com o governador Aécio Neves como um fato consumado, já que ele, Patrus Ananias, não se dispõe a se candidatar a prefeito. Passa a impressão, segundo os correligionários do ministro, de que ele está confrontando a cidade que já governou (1993-1997).

A rigor, Patrus Ananias não teria nada contra uma aliança com Aécio, mas julga prematura qualquer decisão, pois, de antemão, descarta quadros do PT e a própria aliança nacional com o PMDB. Além disso, argumentam os aliados de Patrus e os pemedebistas, desde já estabelece a candidatura de Pimentel ao governo estadual, com o apoio de Aécio, sem levar em consideração a candidatura de Patrus ao posto. A direção nacional do PT também vê com desconforto a aliança.

Para os dirigentes do PMDB, o que existe atualmente entre os dois partidos é uma aliança político-administrativa que pode se transformar numa aliança eleitoral em 2010. “Mas para haver 2010 é preciso haver antes 2008″, nos termos de um integrante da cúpula partidária. Um exemplo de empenho do governo que deve ajudar na composição eleitoral, de acordo com os pemedebistas, será a nomeação de Miguel Colassuono para uma diretoria de Furnas, prometida mas ainda não efetivada pelo governo. Isso ajudaria a compor o PMDB de São Paulo em torno da candidatura petista da ministra do Turismo, Marta Suplicy.

Marta e o PMDB entraram em conflito nas eleições de 2004, quando Marta, que então disputava a reeleição, decidiu-se por uma candidatura puro-sangue: ela vetou uma coligação com os pemedebistas, que ofereciam para vice o deputado e presidente nacional do partido, Michel Temer.* Marta optou pelo nome de Rui Falcão e perdeu por pequena margem. Ainda hoje há quem atribua a derrota para José Serra à ausência do PMDB na chapa. Os pemedebistas não têm grande bancada na Assembléia Legislativa ou na Câmara Municipal: sua força está no tempo de televisão do partido, que é medido em relação ao tamanho da bancada federal.

Na avaliação feita pelo PMDB o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aprendeu a lição de 2002: um dos motivos da derrota do tucano José Serra, em 2002, teria sido a displicência com que FHC tratou da coligação com o antigo PFL, hoje DEM. Na época, o combinado era que, se o PSDB tinha o presidente, PMDB e PFL dividiram as presidências da Câmara e do Senado. O acordo foi rompido quando Aécio Neves, então deputado, atropelou a candidatura pefelista na Câmara (No Senado, elegeu-se Jader Barbalho e os pefelistas foram alijados do comando das duas casas).

É isso o que explica, segundo o enredo pemedebista, o empenho redobrado que tanto FHC quanto Serra procuram na aliança com o DEM do prefeito Gilberto Kassab, na disputa paulistana - se não der certo, não poderão ser acusados de ter “roído a corda”, como foram no início dos anos 2000. É algo que Lula precisa ter em mente em relação ao PMDB, segundo os mais experientes integrantes da sigla.

O próprio PMDB tem problemas para resolver, como demonstra a situação do Rio de Janeiro, terreno há anos sob o controle da oposição a Lula. Primeiro no governo do Estado e na prefeitura. Por enquanto, só na prefeitura, onde Cesar Maia (DEM) cumpre o segundo mandato. Com Sérgio Cabral (PMDB), o governo estadual é agora um aliado incondicional de Lula, mas não conseguiu viabilizar um nome para a sucessão na capital. Pior ainda: não domina a máquina partidária, reduto do ex-governador Anthony Garotinho. O PT também não dispõe, até agora, de um nome viável eleitoralmente. Mas os pemedebistas acham que é possível se encontrar uma solução competitiva, quando Lula efetivamente assumir as articulações.

Em Salvador, uma situação clássica: o atual prefeito, eleito pelo PDT mas atualmente filiado ao PMDB, é João Henrique. Ele é candidato à reeleição com o apoio do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Mas o PT também tem um candidato posicionado na linha de largada: o ex-líder na Câmara Nelson Pellegrino, que foi candidato nas eleições passadas e perdeu por boa margem. Ocorre que agora o PT comanda o governo do Estado, com Jaques Wagner, e Pellegrino vislumbra a possibilidade de uma sorte melhor nas eleições de outubro. A tradição do PT é de concorrer com candidato próprio, sem levar muito em consideração o aliado de governo. A Bahia será um teste decisivo para definir se a aliança PT-PMDB tem fôlego para se manter além dos palanques municipais, até a sucessão de 2010.

* Esta versão da história não corresponde aos fatos, porém foi amplamente divulgada e tida como verdadeira por muitos. Nunca foi proposto o nome de Michel Temer para vice da Marta em 2004. O PT-SP e o PMDB-SP tinham fechado um acordo eleitoral que tinha como contrapartida a participação do PMDB, com duas secretárias, no governo municipal. Posteriormente o PMDB, por decisão de Orestes Quércia voltou atrás, rompeu o acordo e solicitou o cargo de vice, que o PT não aceito porque já tinha escolhido Rui Falcão como candidato ao cargo. LF

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