sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Crime cai, mas roubo cresce em SP


No Estado de São Paulo, os seqüestros apresentaram redução de 58%; número de roubos aumentou 1,8%

Bruno Paes Manso - O ESTADO DE SÃO PAULO



Dos 15 tipos de crimes cujo balanço de registros é divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, 11 tiveram queda no ano passado em relação a 2006. Entre eles estão seqüestros (-58%), roubo a banco (-35%), homicídio doloso (-19%) e latrocínio (-18%).

Apesar do bom desempenho na redução da criminalidade, o roubo, crime violento que registra o maior número de ocorrências, continua sendo um desafio para a segurança pública no Estado. No ano passado, foram registrados 210.724 casos, total 1,8% maior do que em 2006. Quase metade deles, 104.951 casos, ocorreram na capital, onde ocorreu um crescimento de 2,81% nesse tipo de ocorrência.

"Estamos trabalhando em cima disso. De certo modo, temos dificuldades, porque São Paulo é uma cidade, em geral, de trânsito congestionado, o que não deixa de ser um fator facilitador. Boa parte dos roubos ocorre no trânsito. Compramos 120 motos para o policiamento de trânsito, que mudou a filosofia e agora atua também para coibir assaltos contra motoristas", afirma o secretário de Segurança, Ronaldo Marzagão.

No balanço da criminalidade divulgado ontem, alguns crimes tiveram recordes de baixa em registros. É o caso do latrocínio (roubo seguido de morte), com 218 casos no Estado e 42 na capital, a menor marca desde 1995, ano em que os dados começaram a ser medidos. Os casos de latrocínio da capital registrados em todo o ano são menores que os números dos trimestres do começo da década, que ultrapassavam os 70 casos.

O roubo de carros é outro destaque e registra uma queda acumulada de 54% desde 2000, passando de um patamar de 31 mil casos por trimestre para 14 mil. A fragilidade no mercado paralelo de carros e as medidas das seguradoras para coibir o comércio de peças frias desestimularam a ação dos bandidos no setor, a ponto de os furtos de veículos também registrarem no último trimestre do ano a maior queda desde que a série começou a ser feita: 17,2%.

Os homicídios dolosos, da mesma maneira, continuam com forte tendência de queda. Na capital, foram 1.538 casos, ante 5.327 no ano 2000, uma queda de 71%. Apesar dos avanços, o problema dos assassinatos ainda está altamente concentrado em alguns redutos mais pobres e de urbanização mais recente, como é o caso do distrito de Marsilac, área de proteção ambiental no extremo sul da cidade, que teve 134 homicídios por 100 mil habitantes.

Na divulgação, a SSP também mostrou dados que apontam para uma atuação mais eficiente das forças policiais. Os 438 casos de homicídios cometidos por policiais em supostas resistências de suspeitos foi 24% menor do que o total de 2006 - ano dos ataques do Primeiro Comando da Capital - e bem abaixo do patamar de 800 casos registrados em 2003.

O total de presos em flagrante e por mandato voltou a crescer no Estado e hoje registra um patamar de 57 prisões por cada 1.000 delitos cometidos. Esse índice já foi maior no começo da década, quando alcançou o recorde de 75 casos por mil delitos. Isso gerou uma superlotação nas prisões e cadeias, que hoje tem 161 mil presos.

No combate ao tráfico de drogas, considerado pelo secretário de Segurança Pública uma das prioridades para tentar asfixiar a força do PCC, os números também são expressivos e registram novo recorde. Foram apreendidas 84,2 toneladas de drogas no Estado, maior quantidade desde que a série começou a ser feita, em 1995.

SP omite dados sobre seqüestros relâmpagos

Crime, principal causa de estresse pós-traumático em vítimas, é registrado como roubo qualificado

Adriana Carranca-O ESTADO DE SÃO PAULO


Apesar de ser um dos crimes mais traumáticos para as vítimas e de se tornar cada vez mais violento, o seqüestro relâmpago não aparece nos dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nas estatísticas, o crime é computado como roubo qualificado, o que impede que se tenha a noção real do problema, principal causa de estresse pós-traumático em vítimas de violência, ao lado dos seqüestros com cativeiro.

"Talvez os roubos sejam mais freqüentes, mas causam muito menos danos nas vítimas", diz o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor de Transtorno de Estresse Pós-Traumático em Vítimas de Seqüestro (Editora Summus), publicado em dezembro. "Quatro horas sob a mira de um revólver pode causar o mesmo trauma do que ser mantido em cativeiro por 40 dias", diz, após estudos com mais de 300 vítimas de seqüestros relâmpago que procuraram o Grupo Operativo de Resgate da Integridade Psíquica, coordenado por ele no Hospital das Clínicas, entre 2002 e 2005. Ao contrário de outros tipos de violência, que afetam psicologicamente quase duas vezes mais mulheres, o seqüestro relâmpago atinge os homens na mesma proporção, segundo Santos.

O advogado e jornalista Felipe Milanez, de 29 anos, parou o carro em uma rua para ligar para o amigo que o esperava. Um homem encostou na janela, com uma arma mirada em seu rosto. Outro colocou-se na frente do carro. Martinez foi obrigado a escrever num papel as senhas dos cartões de débito e de crédito e a entregá-lo para um terceiro, que estava de moto. Enquanto ele retirava o dinheiro nos caixas, Martinez ficou no carro sob a mira de dois revólveres por uma hora. Nervoso, ele errou as senhas e passou a ser ameaçado de morte. "Você está brincando com a gente?", gritavam. Sacados R$ 1 mil, os bandidos mandaram que Martinez ficasse no carro e se foram com as chaves. "Eu não sabia o que estava acontecendo, se iam voltar, se havia mais deles nas redondezas. Fugi assustado, com as pernas tremendo", conta. Desde então, as cenas não lhe saem da cabeça. "Não consigo mais ficar tranqüilo."

De acordo com o psiquiatra Marcelo Feijó, coordenador do Programa de Atendimento de Vítimas de Violência e Estresse da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre 15% e 20% das pessoas que sofrem violência com ameaça à vida adoecem. Entre as vítimas de seqüestro relâmpago, a prevalência pode ser maior.

"Quanto maior o risco à vida, mais probabilidade de desenvolver estresse", diz Feijó. Segundo ele, os seqüestros relâmpago têm se tornado mais violentos. "Percebemos claramente o aumento de casos de violência física e sexual em seqüestros. Os relatos são cada vez mais horripilantes."


FRASES

Eduardo dos Santos

Psiquiatra

"Talvez os roubos sejam mais freqüentes (que os seqüestros relâmpagos), mas causam muito menos danos nas vítimas"

Felipe Milanez
Vítima de seqüestro

"Eu não sabia o que estava acontecendo, se (os bandidos) iam voltar, se havia mais deles nas redondezas. Fugi assustado, com as pernas tremendo"

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