quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Coerência


De duas coisas, uma: ou o portal Transparência, do governo federal, publica os gastos com os cartões corporativos para que a população e a mídia fiscalizem e coíbam o mau uso dos mesmos, ou o portal era só demagogia.

Por isso não compartilho da opinião dos que vêem na ação da mídia uma campanha de desestabilização do governo.

Tenho escrito aqui que a mídia inventou uma "epidemia" de febre amarela, provocando pânico na população e os fatos mostraram que lamentavelmente o intuito da mídia era claramente político. A mesma coisa com o suposto "apagão" elétrico, apregoado como um fato durante mais de quinze dias pela mídia contra o governo e que agora sumiu do noticiário.

No caso dos cartões ela estaria agindo igual?

O governo federal gasta 150 milhões por ano com esses cartões. Se eles facilitam o controle e a fiscalização, porque cobrar dos que controlando e fiscalizando indicam uso errado ou desvio, quando ele existe?

No que, o fato do governo estadual de José Serra gastar mais de 100 milhões com cartão corporativo, diminui eventual gasto incorreto de algum membro do governo federal? A questão não é quanto gasta o governo federal com os cartões, nem quanto gasta o governo estadual com eles. Mesmo que os gastos federais com os cartões diminuíram em relação a época dos tucanos. A questão é da natureza do gasto, sua pertinência com relação a lei.

Teve uso errado ou tem ilícitos no uso dos cartões do governo federal? Neste caso cabe a denúncia. O mesmo em relação ao governo estadual. Por enquanto a Ministra Matilde Ribeiro apresentou sua demissão reconhecendo ter usado de maneira errada o cartão. Do governo estadual nada foi denunciado, nem apurado e nenhum erro foi indicado.

Não vejo com bons olhos os que procuram defender o governo federal argüindo do fato que quase a metade dos gastos dos cartões corporativos do governo tucano de São Paulo foram retirada em dinheiro, na boca do caixa, o que dificulta o controle dos gastos. Como se uma insinuação contra os adversários, compensasse as insinuações contra o governo Lula.

Nada contra, no caso de uma CPI, incluir os gastos anteriores ao atual governo. Incluso porque é bom lembrar que teve ministro de FHC que usou avião da FAB para levar a familia passear em Fernando de Noronha.

Entretanto, não vejo necessidade de CPI, na medida em que os gastos estão contabilizados e documentados e que existem organismos, desde a CGU até o Ministério Público, além da brigada financeira da PF, para apurar qualquer desvio ou ilegalidade. Mas o presidente Lula decidiu que uma CPI permitira mostrar mais claramente a lisura do governo.

Volto a repetir, que o governo faça uma CPI, que a oposição demo-tucana queira surfar nos fatos, recusando toda e qualquer CPI sobre o mesmo tema no governo estadual tucano, não significa que a procura de transparência nos gastos federais e estaduais seja incorreta.

A mídia e a população tem direito sim de saber se tal ou qual ministro ou funcionário usou o cartão corporativo para pagar uma viagem privada, ou beneficiar indevidamente amigos, correligionários ou parentes. Como teria também o direito de saber se o governador de São Paulo, que foi pular o carnaval no camarote do governador de Rio e depois viajou para visitar sua filha em Trancoso, na Bahia, usou o jatinho do governo estadual ou avião de carreira pago pelo próprio bolso.

Trata-se de uma cobrança e fiscalização legitima, valida para qualquer governo, de qualquer partido, e que a mídia deve exercer com liberdade e sem cerceamento nenhum. Sempre com o mesmo rigor, com o mesmo equilíbrio e a mesma sobriedade.

Talvez esse rigor, equilibro e sobriedade faltem. Nosso dever como cidadãos é exigir esta conduta da própria mídia, se vier a falhar.

Vamos aguardar.

Luis Favre

FONTES


  • O gasto de R$ 150 milhões por ano com Cartões do governo federal foi publicado em todos os jornais, assim como o reconhecimento do erro pela então ministra Matilde Ribeiro. Os gastos superiores da época tucana no governo federal, são do blog Entrelinhas.
  • O gasto de R$ 100 milhões com Cartões do governo estadual de São Paulo, dos quais 48% em dinheiro liquido, foi publicado pelo Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim.
  • A viagem do governador Serra a Rio foi noticiada por todos os jornais e a visita no mesmo carnaval, à filha, em Trancoso, na coluna de Sonia Racy, no jornal O Estado de São Paulo.

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