terça-feira, 20 de novembro de 2007

Privatizaram mal!

O PSDB decidiu assumir à luz do dia a defesa das privatizações. No documento apresentado agora ao 3º Congresso do PSDB os tucanos reivindicam em alto e bom som as privatizações realizadas por Fernando Henrique Cardoso. Querem levantar as ambiguidades que pairaram durante a campanha presidencial de Geraldo Alckmin em 2006.

Gostariam, para falar verdade, de puxar um debate ideológico jogando o PT para o campo dos defensores de desapropriações e estatizações.

Ora, o verdadeiro debate é que os tucanos privatizaram mal. Simplesmente venderam a preço vil, sem estratégia nacional ou industrial nenhuma, tudo o que puderam. Quase sempre com mecanismos que transformavam a venda em negociata altamente lucrativa para os compradores e quase nunca para o Brasil e a população brasileira.

Venderam a Vale do Rio Doce pelo equivalente de um lucro trimestral da empresa, que tinha perspectivas de crescimento extraordinárias como se verificou pouco depois. Nas telecomunicações asseguraram lucros bilionários aos grupos estrangeiros e tudo fizeram para evitar a participação de empresas brasileiras na disputa.

Simbolicamente, o momento escolhido para assumir sem vergonha as privatarias tucanas coincide com o leilão dos pedágios federais, que mostrou à nação o conteúdo real das privatizações tucanas. Na comparação com as estradas paulistas dadas em concessão pelos tucanos, o interesse do usuário ficou patente. A diferença está assim claramente exposta.

Aliás, o PSDB pretendia privatizar a Petrobras e o Banco do Brasil, como pretende agora no Estado de São Paulo privatizar Nossa Caixa, a Cesp e outras empresas estatais.

É bom lembrar que o comandante do processo tucano de privatizações em São Paulo foi Geraldo Alckmin. E que o pretexto para as vendas generalizadas das empresas públicas foi a dívida acumulada pelo Estado. Venderam e a dívida continuou crescendo, aumentaram concomitantemente os impostos, e a dívida continuou crescendo. Agora anunciam novas vendas com intuito semelhante.

Assim fizeram em São Paulo, assim fizeram no Brasil, assim prometem que farão novamente...
se o povo brasileiro deixar.

Luis Favre

O Globo

PSDB, agora, defende privatizações da era FH

Privatizamos e foi bom para o Brasil', dizem tucanos, para quem a economia vai bem pelos feitos do governo passado


BRASÍLIA. Passados quase 20 anos da criação do PSDB, o partido fecha, nesta sexta-feira, no III Congresso e Convenção nacionais, o novo programa de governo que pretende pôr fim à crise de identidade que atravessa na oposição, e com o qual quer enfrentar o lulismo nas urnas em 2010. O documento-base do novo programa foi batizado de “Mais Estado e mais mercado”.

No texto-síntese, divulgado ontem no site do PSDB, há um reconhecimento de que a economia vai bem, mas graças às políticas implementadas pelo PSDB, e uma defesa tardia das privatizações do governo Fernando Henrique, alvos da maior investida da campanha pela reeleição do presidente Lula.

Em 2006, a campanha do tucano Geraldo Alckmin foi torpedeada com boatos de novas privatizações — inclusive da Petrobras — em seu eventual governo, e o PSDB não reagiu. Mais que isso, evitaram a defesa das privatizações e das conseqüências do programa na telefonia, na siderurgia, nas rodovias. O próprio Fernando Henrique demonstrou, em entrevista recente à revista “Piauí”, que privatização sempre foi um tema delicado para o governo tucano: “No final da década de 80, não estávamos mais enfrentando teorias, mas realidade. Olhamos o que existia e estava tudo aos pedaços.

Estávamos falidos. Fomos forçados a privatizar, não havia outro jeito. Mesmo assim, não privatizei tudo”, declarou Fernando Henrique.

No documento divulgado ontem, a defesa da privatização é clara: “Privatizamos e foi bom para o Brasil”. Veja os principais tópicos do documento:  PRIVATIZAÇÃO: “C ri am os agências reguladoras. E privatizamos, o que foi bom para o Brasil. Com as privatizações das telecomunicações, o Brasil pôde ingressar com o pé direito na era da internet e do telefone celular.

Empresas como a Embraer e a Vale do Rio Doce são competidoras mundiais de sucesso.

As siderúrgicas expandem-se pelo mundo afora e deixaram de ser um encargo para o Tesouro.

Livramos as empresas da infiltração dos partidos políticos.

No governo do PSDB a Petrobras tornou-se uma corporação moderna e a produção brasileira de petróleo deu um salto rumo à auto-suficiência, que este governo comemorou como se fosse conquista dele”.

 EDUCAÇÃO: “Temos que completar a revolução na educação, que apenas iniciamos. A escola será um dos motores da agenda de desenvolvimento nacional em um governo do PSDB, como foi nos governos FHC e tem sido nos governos estaduais sob o comando do partido.”  SAÚDE: “Com clareza estratégica e competência gerencial é possível aumentar a produtividade dos recursos investidos.

(...) A redução da mortalidade materna é imperativa. (...) É necessário promover a regionalização solidária e cooperativa (...) É preciso desenhar redes integradas tendo como centro de gravidade a atenção primária (equipe de saúde da família e unidades básicas).”  REDE SOCIAL/BOLSAS: “As políticas sociais brasileiras, no atual momento, são pouco ousadas e têm baixa competência gestora. (...) O primeiro ponto é que toda e qualquer ação de combate à pobreza e de política social tem que ter avaliação, tem que saber onde está e aonde quer chegar(...). É necessário um programa que atenda aos jovens. Ele tem que freqüentar aulas. (...) O Bolsa Família nada mais é do que a junção dos programas da Rede de Proteção Social criados no governo do PSDB, como o Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação.”  REFORMA POLÍTICA: “O PSDB assume de forma clara a bandeira do voto distrital como núcleo da reforma eleitoral e política (...) Fortalecer a posição dos parlamentares é o primeiro passo para que se possa reverter a absoluta predominância do Executivo em relação ao Legislativo.

A fidelidade partidária será reforçada em conseqüência da mudança do sistema eleitoral.”  CORRUPÇÃO: “Quando os amigos do presidente da República são flagrados em ilicitudes e o presidente diz “todos fazem”, isso é uma mensagem para a sociedade: vale tudo, todos podem fazer de tudo.”  CRESCIMENTO ECONÔMICO: “A economia vai relativamente bem e o governo vai mal.

(..) O Brasil está ficando menor no mundo, menor na América Latina, e muito menor em relação aos demais países emergentes.

Desde 2002 o Brasil cresceu 22%, a América Latina, 26%, o mundo 31%, e os emergentes, 50%. (...) O governo do PSDB estabilizou a economia e reformou o Estado, preparando-o para o círculo virtuoso estrutural de que hoje se beneficia.”  REFORMA AGRÁRIA: “Não se pode mais prosseguir transferindo terras e gerando pressões sobre o gasto público, sem avaliação dos resultados, sem perspectiva de emancipação econômica dos assentamentos.”  REFORMA FISCAL/GASTOS: “(...) é urgente impor à União o que a Lei de Responsabilidade prevê, mas nunca foi implementado: um limite para o endividamento do governo federal. É preciso também estabelecer um redutor para despesas de custeio da União e fixar uma regra para o aumento do salário mínimo.”

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