quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O PSDB ainda está à procura de um rumo



Editorial Valor

A semana passada seria a do PSDB. Pelo menos era o que o partido havia planejado, ao marcar suas inserções publicitárias na TV antes do 3º Congresso do partido fundado em 1988. A ofensiva de marketing desembocaria na reunião tucana, que decidiria pela "atualização" do programa partidário e seria encerrada com honras pelo seu maior cardeal, Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República por dois mandatos (1994-1998 e 1999-2002).


Como a realidade nem sempre coincide com o marketing, ainda nos jornais de domingo era possível perceber o estrondoso fracasso de público da semana tucana. As televisões veicularam as imagens da xerox com repetitivos textos de que o PSDB fez, o PT copiou, sem que se conseguisse sair do "passado glorioso" para apontar um verbo no futuro: o que fará o partido hoje com mais chances de eleger o sucessor do presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva? Os tucanos não conseguiram também responder essa pergunta no "manifesto de atualização do programa partidário", que professa o partido como "autenticamente nacionalista e moderno" (sem dizer o que vem a ser o autêntico, o nacionalista e o moderno) e prega um "desenvolvimentismo" que passa por uma opção por "mais governo e mais mercado", seja lá o que isso represente na literatura acadêmica que tanto FHC preza (um mistura e manda, ou copia e cola, do liberalismo com o keynesianismo?)


No encerramento do evento, o que ficou registrado foi o radical discurso do ex-presidente que, para atacar os que consideram o partido elitista e preconceituoso, deu mais munição aos detratores. "Há, sim, acadêmicos entre nós, e nós não temos vergonha disso. Há gente que sabe falar mais de uma língua, sim, mas também falamos bem a nossa. Queremos brasileiros bem educados e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria", disse o ex-presidente, que sequer precisou apontar o indicador para o atual, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, para que sua "insinuação" fosse entendida. Além da deselegância, que trai um orgulho ferido, o ex-presidente carimbou na testa do PSDB não o desprezo pela educação, mas pelo voto, que deu dois mandatos a Lula assim como elegeu e reelegeu o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Os eleitores certamente não têm vergonha de ter eleito um ou outro. Exerceram seu direito.


O Congresso e as máquinas xerox foram incapazes de dar um verniz a uma divisão partidária que se tornou uma doença crônica, motivada que é por ambições pessoais que dificilmente convergem para o coletivo e por uma enorme desorientação programática. Durante os governos FHC, um relativo consenso em torno da premência da estabilidade econômica e a existência de um elemento agregador, Mário Covas, deu alguma cola e substância aos atores que disputavam o poder internamente. Na oposição, o tucanato ficou sem norte no momento em que o PT optou por dar continuidade à política econômica ortodoxa de FHC e perdeu o rumo quando, depois de bater na tecla de que Lula abusava de uma política social paternalista e populista, engoliu nas urnas uma forte aprovação popular ao Bolsa Família. A partir de então, tenta emplacar um discurso do partido que inventou as políticas públicas que tiveram sucesso no atual governo. E não consegue sair disso - a não ser para renegar outras criaturas suas, como a CPMF, a Desvinculação das Receitas Orçamentárias (DRU), o valerioduto mineiro etc. A grita contra a carga tributária, aliás, é um capítulo à parte, já que ela é, hoje, a que se impunha aos contribuintes em 2002, menos as desonerações feitas no primeiro mandato de Lula.


A semana tucana projeta para 2010 uma legenda que tem os dois candidatos hoje com mais chances de êxito nas urnas, os governadores José Serra e Aécio Neves, nenhum programa e qualquer consenso interno. A educação per capita tucana, que FHC diz que não deve envergonhar os militantes, não foi suficiente para dar consistência programática e organicidade a um partido que corre o risco de voltar a ser governo em 2010 e precisa dizer a que veio - ou melhor, por que quer voltar.

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