quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Falando serio


O PSDB decidiu adiar toda verdadeira discussão nas suas fileiras sobre as suas propostas políticas para o país.

Preferindo uma unidade entre suas diferentes correntes e sensibilidades a clarificação de seu posicionamento nas principais temáticas nacionais, os tucanos privilegiam a aposta na viabilidade de um nome-candidato e não desgaste eventual do governo Lula. Porem, não é evidente que essa aposta seja coroada de êxito.

Contrariamente ao seu aliado tradicional, o DEM, que procura assumir abertamente seu conteúdo de direita liberal com verniz udenista, o PSDB fica acima do muro. Por provável influencia dos fernandistas, apoiados pelos alckimistas, a reafirmação do ideario privatizador e liberal que marcaram os oito anos de FHC reapareceu com força no documento do congresso tucano.

A ausência total de autocrítica sobre sua própria trajetória inibe uma boa parte de suas críticas ao PT ou ao governo Lula.

Como criticar, por exemplo, a ausência de verdadeira reforma tributária para diminuir seriamente o peso dos impostos, sem uma palavra sobre a própria responsabilidade no aumento dessa mesma carga durante o governo tucano?

Como sustentar a crítica aos gastos públicos e à política fiscal, sem expor à crítica os quatro primeiros anos do Plano Real que deixaram as torneiras abertas para o endividamento e os gastos federais, sem superávit para reduzir precisamente esse endividamento explosivo?

Como questionar a ética do PT e manter o ex-presidente nacional do PSDB Eduardo Azeredo o pai do "valerioduto" como um dos principais expoentes dos tucanos em Minas? (Elegeram agora, segundo os jornais, um "mensaleiro" como presidente do PSDB de Minas).

Qual é a credibilidade para além do apoio da mídia, das invocações à democracia contra um eventual "terceiro mandato" na boca precisamente de quem, além de mudar as regras para se favorecer introduzindo a reeleição, não teve nenhum embaraço em defender um eventual terceiro mandato para... Fujimori no Peru! Como sustentar ao mesmo tempo que a alternância é uma necessidade perante o fracasso do governo atual e ao mesmo tempo indicar que se a possibilidade de disputar novamente viesse a ser adotada, Lula voltaria a ganhar as eleições?

Por último, como acreditar no posicionamento mais a esquerda pretendido pelo principal candidato tucano, José Serra, sendo ele o maior defensor da aliança com os Demos justamente assumidos como direita desenvergonhada? Como levar a serio os seus oponentes fernando-alckimistas em sua proclamações social-democratas, sendo uma de suas marcas os ataques repetidos ao Bolsa-familia, acusado de assistencialista?

Descepcionada, a Folha de São Paulo constata hoje no seu editorial:

"A política econômica continua sendo terreno de divergências e indefinições entre os tucanos. O partido não sabe se apóia "mais do mesmo", se defende o superávit fiscal nominal (desendividamento acelerado do setor público), se propugna por intervenções maiores no câmbio, se retoma as privatizações, se interfere no Banco Central ou se lhe confere autonomia formal, se reforma a política externa a começar do Mercosul ou se a mantém como está. Nesses quesitos cruciais, cada grão-tucano tem seu programa particular -o qual não compartilha com seus correligionários nem dele abre mão em favor da unidade programática."

A mesma decepção impregna os comentários nos demais veículos que compartilham com a Folha suas inclinações políticas.

Em ausência de idéias-força e de propostas alternativas, os tucanos acabam apostando em pesquisas. A três anos da eleição e com vários aspirantes aparentemente determinados (Aécio Neves, José Serra, mas têm os que apóiam Alckmin e até Ciro Gomes), o risco de repetir o fiasco das duas últimas eleições é muito grande.

Mesmo sem Lula, o " terceiro mandato" para o PT e sua coligação vai continuar assombrando os tucanos.

O 3º Congresso do PSDB, ao que tudo indica, preferiu adiar as definições indispensáveis. Os tucanos poderão acabar não só perdendo algumas plumas, mas ficando a ver navios.

A decepção da mídia pode não ser nada, já a do eleitorado...

Luis Favre

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