terça-feira, 20 de novembro de 2007

3º Congresso do PSDB: Em direções opostas

Pouco antes de a Câmara dos Deputados votar e aprovar a prorrogação da CPMF, a Executiva Nacional do PSDB fez uma reunião e decidiu que o partido votaria contra o imposto do cheque. Senadores presentes à reunião chegaram a perguntar até quando os deputados conseguiriam segurar a tramitação do projeto na Câmara. A primeira semana de outubro, respondeu um deles. Ótimo, os senadores reagiram com entusiasmo, era mais que o bastante para que eles barrassem a votação até o fim do ano parlamentar.


Os deputados cumpriram a promessa: a CPMF só foi votada na Câmara no dia 10 de outubro. Mas tão logo o projeto de emenda constitucional saiu do salão verde para o salão azul, a primeira coisa que os senadores tucanos fizeram foi abrir conversações com o governo. Hoje não há mais um PSDB, mas pelo menos três - um de José Serra, outro de Aécio Neves e um terceiro de Tasso Jereissati.


sabem o que fazer, mas caminham em direções opostas, e por isso os tucanos não conseguem criar um conjunto de orientações que dê clareza de ação política prática a seus congressistas e militantes.


Tucanos da primeira geração reclamam da falta de um líder capaz de manter acesa a chama do PSDB. Alguém como Mário Covas, que no início dos anos 90 impediu que o partido caísse no colo de Fernando Collor de Mello e pavimentou o caminho do PSDB até a Presidência da República em 1994.


O PSDB não sabe o que é e o que será quando for novamente governo, mas age como se já tivesse retomado o Palácio do Planalto. O risco Lula (terceiro mandato) não é desprezado. Mas varia em grau a avaliação de cada tucano sobre a viabilidade do projeto do PT continuísta. Serra, por exemplo, não acredita.


Às vésperas do 3º Congresso, que definirá o novo programa partidário, e da convenção para eleger novos dirigentes, na quarta e quinta-feira próximos, o que há atualmente no PSDB é a linha "Serra presidente", a linha "Aécio presidente" e uma linha Tasso Jereissati, que deve ficar com a candidatura de Ciro Gomes (PSB). O problema é que cada uma dessas linhas representa interesses e projetos diferentes, e há partidários dos dois - ou dos três - lados.



Falta um líder para unificar os tucanos


A linha "Aécio presidente" tem um projeto parecido com o do atual governo do ponto de vista econômico e das relações políticas - algo como já desenvolve hoje em Minas Gerais nas parcerias firmadas com partidos diversos. Além disso, Aécio calcula ser necessário juntar PSDB e PT para fazer as grandes reformas necessárias.


O projeto da linha "Serra presidente" é diverso do modelo atual em relação à política econômica e prevê outro tratamento para a política monetária, juros e câmbio. Defende o "Estado ativo", protagonista, mas algo que estaria à frente do tradicional Estado interventor. O serrismo também quer uma outra política de relações internacionais.


Se for eleito presidente, é dado como certo que a primeira viagem de Serra não será aos EUA - como foi a do presidente eleito e ainda não empossado Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez algum país da Europa. O que não quer dizer que Serra quer briga com os americanos, apenas mudar a simbologia. Na política, a aliança pensada para a execução das chamadas "grandes reformas" é com Democratas e PMDB.


Resta a linha Tasso Jereissati, que não é propriamente um projeto mas que representa o interesse regional. Tanto que entre o Ceará e o mundo, Tasso já declarou que fica com o Ceará e, portanto, mais uma vez estará entre os correligionários de Ciro Gomes.


Esse cenário de nau à deriva é o que explica por que enquanto Tasso combate o imposto do cheque no Senado, três governadores (Serra, Aécio e Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul) são contra a extinção da CPMF, por entender que, ruim com ela (é mais dinheiro para Lula usar politicamente), pior será se eles ficarem sem nenhum.


O curioso é que isso ocorre num momento em que tanto Serra quanto Aécio mantêm a tensão, mas dizem acreditar que será possível um acordo entre os dois em relação a 2010. É a expectativa de que um ou outro estará no Palácio do Planalto, depois de Lula, que mantém uma acerta unidade no PSDB. Sem essa crença, os tucanos talvez já tivessem se dissolvido.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras no Valor

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