terça-feira, 30 de outubro de 2007

Uribe sofre sua pior derrota em eleição local na Colômbia

Sergio Leo

Valor

As eleições estaduais e municipais na Colômbia, neste domingo, impuseram uma grande derrota ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, com a vitória impressionante da oposição na disputa pelo segundo posto mais importante da política colombiana, o de prefeito da capital, Bogotá. Mas é o próprio vencedor, Samuel Moreno, do esquerdista Pólo Democrático Alternativo, o primeiro a dizer que é errado acreditar que o resultado afeta seriamente as chances de Uribe e seus aliados nas eleições para a Presidência da Colômbia em 2010.


Uribe vem sendo fortemente criticado - e até ameaçado de processo judicial pela oposição - por seu forte engajamento na campanha eleitoral. No dia da votação, deu declarações contra Moreno, insinuando que ele teria ligações com a guerrilha das Farc, sem citar o nome do candidato.


Apesar de a economia colombiana seguir em franca expansão (o PIB deve crescer mais de 6% este ano), Uribe vive o momento mais difícil de sua Presidência, com acusações de infiltração dos paramilitares de direita em seu governo e com o fracasso, por enquanto, de sua principal aposta em política externa, o acordo de livre comércio com os EUA, ainda não ratificado pelo Congresso americano. Ainda assim, a aprovação ao presidente segue alta, perto de 70%, segundo as últimas pesquisas.


A derrota de candidatos de Uribe e a vitória da esquerda ou de candidatos independentes em capitais importantes como Bogotá, Medellín, Cali e Catagena, foi em parte compensada pela vitória de forças conservadoras, de partidos tradicionais ou ligados à direita, na maioria das disputas pelos governos dos Departamentos (os Estados) na Colômbia.


Somados, os tradicionais partidos Liberal e Conservador elegeram 14 dos 32 novos governadores, e o Partido da U, do presidente Uribe, elegeu quatro, o terceiro melhor resultado.


"Nenhum partido pode dizer que teve uma vitória rotunda, a maioria dos candidatos eleitos pertencia a alianças, algumas muito heterogêneas", comentou, ao Valor, o diretor do centro de análises Seguridad y Democracia, Alfredo Rangel. A eleição em Bogotá é uma vitória inquestionável da esquerda, mas, em outras localidades, a maioria dos eleitos por partidos independentes estão no centro ou até à direita do espectro político, diz o analista, um dos mais conceituados da Colômbia.


O país, até a Constituição de 1991, era obrigatoriamente bipartidário e, nos anos 50, resolvia à bala disputas entre os partidos Liberal e Conservador. Hoje a Colômbia tem, em seu cenário político, coalizões de forças sem clara identidade partidária, o que provocou o festival de alianças esdrúxulas nos departamentos e municípios. Houve casos de candidatos apoiados, ao mesmo tempo, pelo partido de Moreno e pelo de Uribe.


O Pólo, que elegeu só um governador, é uma coalizão das principais forças de esquerda colombianas, com predominância do centro-esquerda. O próprio Moreno não tem muita afinidade com o correligionário e atual prefeito de Bogotá, Luiz Eduardo Garzón, sempre comparado a Lula por sua origem sindical e estilo político.


Neto do único ditador que houve na Colômbia (o general Gustavo Rojas Pinilla), filho de uma influente política, Moreno foi senador e é um político de grande popularidade no país.

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