domingo, 30 de setembro de 2007

USA: “O momento favorece os progressistas", diz analista Todd Gitlin

Image: Democratic presidential hopefuls

Bill Sikes / AP
Democratic presidential hopefuls from left, Sen. Joseph Biden, D-Del., Sen. Christopher Dodd, D-Conn., New Mexico Gov. Bill Richardson, Sen. Barack Obama, D-Ill., former Sen. John Edwards, D-N.C., Rep. Dennis Kucinich, D-Ohio, Sen. Hillary Rodham Clinton, D-N.Y., former Sen. Mike Gravel, D-Alaska arrive on stage for a debate at Dartmouth College on Wednesday.


Na longa campanha, candidatos à presidência dos EUA confundem o eleitorado, diz analista

Pedro Doria

O Estado de São Paulo

Na quinta-feira, os políticos que concorrem à candidatura presidencial pelo Partido Republicano se encontraram para um debate. Nem todos foram. Na quarta, foi a vez de os democratas se reunirem. Numa campanha tão longa - serão 18 meses no total - os debates parecem que nunca param. “Os candidatos falam, falam e dão a impressão de que nada dizem”, comenta o analista de mídia Todd Gitlin. Confundem o eleitor, que acaba fazendo uma opção mais pela forma do que pelos fatos.

Para o especialista, a má impressão é em parte responsabilidade da imprensa - para ele, “superficial, sensacionalista e mais preocupada com embates que produzam espetáculo” do que com conflitos entre idéias. Ainda assim, com o governo de George W. Bush desgastado, o escolhido pelos democratas deve vencer. “Há uma geração que os republicanos estão focados no objetivo de chegar ao poder”, diz Gitlin. Tiveram à disposição o dinheiro das grandes corporações e a disciplina da direita religiosa. Mas a militância democrata, organizada pela internet, pode mudar o jogo.

O que não muda é a natureza dos EUA, sempre mais conservador que o resto do Ocidente. “Foi o primeiro país moderno a fazer sua Revolução”, explica o professor. “O movimento conservador não quer que aquelas conquistas desapareçam.” A seguir, os principais pontos de sua entrevista para o Aliás.

OS CANDIDATOS

“Se você me perguntar o que cada candidato diz, eu não saberia.Estão todos os dias, todas as horas, nas TVs, nas rádios, nos jornais. Falam, falam e não dizem nada. Minha esperança é que, se prestarmos muita atenção, se lermos as transcrições de tudo que dizem, talvez descubramos que aqui e ali estejam conversando como adultos a respeito de temas importantes como impostos, saúde, educação. Porque a quantidade de coisas que falam é tão grande que, talvez, no balanço, algo de importante tenha sido dito.

CAMPANHA PRESIDENCIAL

“Ainda assim, e insisto que é apenas talvez, esta que está começando se mostre ligeiramente melhor que as campanhas presidenciais recentes. Digo isso porque será uma campanha longa, são 18 meses entre o anúncio das candidaturas e a eleição, e os candidatos têm tido muitas oportunidades para se encontrar, o que facilita o confronto de idéias. Por outro lado, debates que reúnem cinco ou dez políticos não são debates. São sabatinas da imprensa feitas consecutivamente.

MÍDIA

“A cobertura da imprensa se nivela por baixo. É superficial, sensacionalista, fofoqueira. Os únicos confrontos políticos que interessam são aqueles que apelam de alguma forma ao espetáculo. Mas não quer dizer que esteja pior. A cobertura da eleição de 2000, esta sim foi realmente terrível. Havia tanta fumaça, tanta confusão, que ninguém se lembrou de ir atrás do passado dos candidatos. A distorção dos históricos pessoais de George W. Bush e Al Gore teve imensas repercussões, a começar pela habilidade de Bush de fazer-se vencedor do pleito. Comparado com aquilo, a imprensa vai muito bem. Mas ser melhor do que foi em 2000 não é vantagem.

VALORES

“Entre os americanos há uma crença enraizada de que os Estados Unidos sejam uma terra privilegiada, quase mítica, e suas instituições devem ser preservadas. No DNA cultural do povo está uma necessidade de afirmar e reafirmar sua religiosidade, que é atípica no Ocidente. Não quer dizer que americanos sejam mais ou menos religiosos que os outros, apenas consideram importante enfatizar sua fé. Os EUA foram o primeiro país moderno a fazer uma revolução com sucesso e o argumento dos conservadores é de que os ganhos daquela revolução devam ser preservados. Num país em que a maioria teve acesso à terra própria no início de sua história, no período colonial, valores como o direito à propriedade são profundamente arraigados. Mas, evidentemente, há valores que podem ser considerados antagônicos a este, como uma tradição incrivelmente igualitária.

REPUBLICANOS

“Eles são extremamente focados na conquista de poder. Têm uma incrível quantidade de dinheiro. Apesar de representarem um grupo pequeno de facções, conseguem atrair candidatos com imenso apelo público, homens carismáticos, capazes de capturar a imaginação da massa de americanos. Têm a disciplina da direita cristã e o dinheiro das grandes corporações. É por isto que o predomínio conservador já dura uma geração.

DEMOCRATAS

“O momento favorece os progressistas. O aparato do Partido Democrata está disciplinado graças ao presidente da legenda, Howard Dean. Há um sistema eficiente de mobilização dos militantes e de arrecadação de fundos via internet. Dean conseguiu fazer com que as facções que compõem o partido aprendessem que precisam cooperar, ao invés de disputar entre si. Eu diria que os democratas chegaram tarde à festa. Mas chegaram.

INTELECTUAIS

“Boa parte do sentimento anti-Bush vêm de intelectuais, mas eles não são organizados. Não há um movimento. Costumo brincar dizendo que enquanto a direita estava marchando sobre Washington, a esquerda marchava sobre o departamento de inglês das universidades...

JUVENTUDE


“Os anos 60 exacerbaram o ativismo estudantil, mas ele não se manteve. Os estudantes de hoje são muito dedicados às aulas e querem se formar, entre outros motivos porque o custo do ensino superior ficou alto. Naquela época, os jovens tinham valores diferentes dos de seus pais, queriam sair do establishment. Havia um rompimento geracional. Hoje, os jovens fazem parte do establishment e os riscos em viver fora do padrão são muito maiores. Não é mais possível viver uma vida de pobreza confortável, como era. E há uma mudança de foco. Os estudantes estão menos interessados em liderar uma revolução. São de certa forma menos presunçosos, menos ambiciosos.”

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