terça-feira, 28 de agosto de 2007

Argentina: Xenofobia, antisemitismo e preconceito a luz de uma pesquisa

Mais de 50% dos adolescentes entrevistados rejeitam judeus, chineses e bolivianos.

Márcia Carmo - BBC

de Buenos Aires - Uma pesquisa inédita realizada com estudantes na Argentina revelou que os brasileiros são os estrangeiros mais aceitos do país.

Segundo o estudo, feito para avaliar a xenofobia entre os estudantes, os brasileiros tiveram maior índice de aceitação (52%) e menor índice de rejeição (30%) numa lista de doze diferentes grupos de estrangeiros.

A pesquisa, que ouviu 5 mil estudantes do segundo grau de 85 escolas públicas de várias províncias do país, foi realizada pelos sociólogos argentinos Ana Lia Kornblit e Dan Adaszko, do Instituto de Investigação Gino Germani, da Universidade de Buenos Aires (UBA).

Em entrevista à BBC Brasil, Adaszko disse que os resultados da pesquisa surpreenderam pelo alto nível de "xenofobia", com percentuais preocupantes, por exemplo, de rejeição a ciganos (67%), judeus (55%), chineses e coreanos (52%) e bolivianos (52%).

Os estudantes receberam listas com as nacionalidades e grupos e três opções de respostas - aceitação, rejeição e indiferença.

Mais de 40% dos estudantes rejeitaram os peruanos, chilenos, paraguaios, americanos e árabes.

Os brasileiros são uma exceção nesta lista, como disse Dan Adaszco: "Acreditamos que, diferente dos outros grupos de estrangeiros, citados na pesquisa, os brasileiros não são vistos como uma ameaça no mercado de trabalho local", afirmou.

"Além disso, há a imagem positiva do carnaval, das férias nas praias brasileiras e o reflexo do que sai na imprensa argentina sobre o Brasil e os brasileiros", completou Adaszco.

Para ele, a pesquisa confirma a fama de "xenofobia" em setores da sociedade argentina. "Nós entendemos que os adolescentes são um reflexo do mundo dos adultos e têm coragem de dizer o que os adultos não dizem", afirmou.

Apesar da fama, Adaszko se disse surpreso com o alto grau de rejeição, de mais de 50%, em relação a ciganos, judeus, chineses e bolivianos.

Segundo o estudioso, existe um "discurso duplo" na Argentina por ser um país que abriu as portas para a imigração, mas não de forma igualitária. "Para muitos, especialmente nos grandes centros urbanos do país, o ideal e aceitável é o europeu e o branco e não o nativo da América Latina", avaliou.

"O latino é visto aqui com desconfiança e até desprezo". Segundo ele, a pesquisa mostrou ainda que o índice de "xenofobia" e "racismo" diminui a medida que aumenta o nível de educação dos pais. "Não é questão de classe social, mas sim que depende do nível de educação dos pais dos estudantes adolescentes", disse.

Na Argentina, no final do século 19 e início do século 20, as principais imigrações foram italiana e espanhola. Nos anos 90, segundo dados oficiais da Direção Nacional de Migrações da Argentina, a maior imigração partiu dos países da região como Bolívia, Peru e Paraguai - os brasileiros são minoria nesse grupo.

A pesquisa de opinião recebeu o Prêmio Ibero-americano em Ciências Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México e será premiado, nesta terça-feira, pelo Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) da Argentina.

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