terça-feira, 17 de julho de 2007

Rio maravilha

BENJAMIN STEINBRUCH

Folha de São Paulo (para assinantes)




O Rio está mais bonito do que nunca e preparado para ser de novo capital brasileira, agora dos esportes

NAS ÚLTIMAS décadas, desde que a capital federal mudou-se para Brasília, virou moda falar mal do Rio. Pelo esvaziamento econômico da cidade e do Estado, pela transferência de parte do sistema financeiro para São Paulo, pela crise da indústria naval, pela leniência do carioca, pela violência urbana, pela perda de turistas e até pelo futebol deficitário.
É certo que a perda da condição de capital, em 1960, impôs prejuízos ao Rio. Caíram as receitas federais e houve um efetivo esvaziamento de alguns setores e estagnação econômica. Mas sempre achei essas avaliações exageradas por vieses regionalistas e por boa dose do que chamamos de dor-de-cotovelo.

Seja como for, brasileiros em geral precisam admitir que esse Estado, a despeito dos enormes desafios que enfrenta, principalmente no combate à criminalidade, começa a retomar sua condição de "Rio maravilha".

A escolha do Cristo Redentor como uma das sete maravilhas do mundo moderno, com 100 milhões de votos, é apenas um símbolo dessa retomada. O verdadeiro ressurgimento do Rio se dá na economia. Li na semana passada uma revista publicada pelo "Valor" sobre os avanços da economia fluminense. Os números impressionam. De 1999 a 2005, o PIB industrial do Rio cresceu a uma média anual de 12,4%. A economia fluminense, com um PIB estimado em R$ 140 bilhões, equivale hoje à de países como Chile, Colômbia ou Venezuela.

O Rio começou a sair da estagnação com os pesados investimentos da indústria do petróleo para explorar as reservas no litoral fluminense. Mas, pouco a pouco, o impulso do petróleo irradiou para vários setores, como construção naval e de plataformas, petroquímico, siderúrgico e até indústria automobilística. O Rio ainda é bastante dependente dos recursos da indústria do petróleo, mas essa dependência se reduziu muito nos últimos anos. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento, as intenções de investimentos no Estado, excluído o setor de petróleo, somam R$ 51 bilhões entre 2007 a 2012, com a criação 48 mil novos empregos diretos. Incluído o petróleo, o cálculo salta para R$ 110 bilhões.

E há ainda o turismo. A despeito dos problemas de segurança, o Rio continua sendo a principal porta de entrada de turistas no país. Os Jogos Pan-Americanos, abertos na sexta-feira, estimularam investimentos na rede hoteleira. Cerca de 3.000 novos quartos foram construídos, com sensível melhoria na infra-estrutura setorial.

No início dos anos 1990, quando o Rio de Janeiro foi escolhido para ser a sede do mais importante evento global sobre ambiente, previa-se um fiasco brasileiro aos olhos do mundo. Mas a Rio-92 foi um sucesso, a ponto de se cogitar atualmente a segunda edição, também no Rio, desse encontro de cúpula mundial.

Seis meses atrás, cansamos de ver reportagens sobre o "inevitável" fracasso do Pan, porque as obras não estariam concluídas a tempo e porque seria impossível garantir a segurança dos visitantes. Previsões erradas até agora. Cruzemos os dedos para que o sucesso dos primeiros dias dos Jogos se confirme.

Com as obras do Pan-Americano, o Rio de Janeiro, tantas vezes tido como esvaziado e decadente, está mais bonito do que nunca e preparado para ser de novo capital brasileira, agora dos esportes. E tem tudo para ser o carro-chefe na disputa brasileira por dois grandes eventos de repercussão mundial: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.


BENJAMIN STEINBRUCH, 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). bvictoria@psi.com.br

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