sábado, 30 de junho de 2007

O outro boi merece respeito


O que mais chama a atenção no Festival folclórico de Parintins é o respeito silencioso que acolhe a apresentação do adversário. Enquanto os vermelhos do Garantido atingem o delírio perante o ritmo da batucada,o visual das alegorias e o contagiante espetáculo do “próprio boi”; a numerosa torcida azul do Caprichoso assiste, aprecia e aguarda sua vez.

O “Eldorado é aqui” do Caprichoso fez seu ingresso com exuberância e profissionalismo sem nada a dever aos “Guardiões da Amazônia” que o precedeu na areia. Foi a vez dos mais de 15 mil torcedores vermelhos ficarem silenciosos homenageando o adversário. Uma lição de democracia que deveria impregnar o mundo político e muitas outras atividades humanas.











O “confronto”dura três dias e a cidade é virtualmente tomada por milhares de turistas e parintinenses, divididos igualmente entre azuis e vermelhos. A festa do boi bumbá, maravilhoso resgate do folclore com influências maranhenses e do sincretismo do Amazonas, constitui um manifesto cultural extraordinário sobre a preservação da floresta, sobre os problemas da relação da civilização e a natureza. Ao mesmo tempo uma fonte de emprego e renda que aprimora-se a cada ano. Em particular, após a presença do presidente Lula em 2003, onde pela primeira vez um presidente se fez presente no festival, que está hoje na sua 42° edição.

A festa constitui um momento de reafirmação desse compromisso com a exploração ecológica da Amazônia, ou como disse Vicente de Matos, presidente do Boi Garantido, “trata-se de um alerta para que as gravíssimas conseqüências do aquecimento global e do desaparecimento das florestas em nosso planeta não passem de um pesadelo.”

Não por acaso desta vez o boi bumbá Garantido exibiu uma mistura de bicho folharal, figura lendária que aparece para punir quem fere a floresta e o seringueiro Chico Mendes (a 20 anos de seu assassinato). Junto com eles uma feérica dança de criaturas encantadas, caboclos, gladiadores da tribo dos Munduruku, e o ritual Zuruahá, ao ritmo alucinante de uma batucada esquentada pelo apoio de milhares de torcedores. Em Parintins, se nasce azul ou vermelho, Caprichoso ou Garantido. E mesmo que os vermelhos se proclamem com orgulho “o boi do povão”, tem muito azul que vem do mesmo povo tão caprichoso na sua alegria.

A grande festa, ainda em andamento, dura três dias. Domingo à noite será a grande final e com o mesmo respeito será proclamado o campeão.

Durante as festividades, o acolhimento aos turistas é acompanhado de uma intensificação das campanhas contra a exploração sexual de crianças e adolescentes, assim como de luta contra o HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis. Uma infraestrutura de hotéis e pensões, assim como barcos com grande capacidade e conforto de hospedagem, permitem uma estadia gostosa. Tudo conflui para fazer de Parintins uma porta para o desenvolvimento de um turismo ecologicamente equilibrado da Amazônia e com benefícios crescentes na geração de empregos e de renda.

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